Educação: será que isso é importante?
Franco Abelardo

Angelus

Pichação feita por vândalos na igreja matriz do Ó - frente/direita do prédio

Está ficando a cada dia mais difícil entender o comportamento das pessoas. O que será que passa na cabeça de um ser humano, racional, que premedita um assalto, executa a ação criminosa, mantém pessoas sob pressão psicológica, imobiliza essas pessoas e depois resolve queimá-las vivas? Será que os psicólogos ou os estudiosos do comportamento humano, conseguem prever ou esclarecerem os fatores levam a essas atitudes? A raiva e a inveja de pessoas que trabalham, tem um lar, tem uma fonte de renda, tem família podem ser uma primeira explicação. Mas como justificar que entre suas vítimas existam crianças de cinco anos? Que tipo de ser humano executaria seres que jamais lhe fariam mal algum? Como explicar esse comportamento insano?
Esses elementos que participam desses atos contra a humanidade, precisam ser cuidadosamente estudados, não adianta dissecá-los! Sim, pois esse procedimento denota uma tendência que, se confirmada, será a autodestruição da vida humana na Terra. Os recentes atentados suicidas de alguns fundamentalistas estão se tornando matéria de pouco interesse aos leitores, e ocupam espaços ao pé da página interna dos jornais. Ninguém se comove mais.
Esses criminosos devem ter uma história. Devem ter família, trabalho, ter estudado em alguma escola, ter alguma religião, ter parentes, amigos, ou seja, existe um farto material para pesquisa. Que tipo de formação foi dada a esses elementos que resultaram na tomada de tal atitude?
Muitas questões podem ser colocadas, mas de uma coisa tenho certeza: temos que agir. É preciso rever nosso sistema de formação do indivíduo. Como é possível que pessoas com essa mentalidade convivam tanto tempo despercebidas em nosso meio social? Em que momento da formação essa característica demoníaca desenvolveu-se? Cuidado, "demoníaca" está no sentido de ser contra o que é natural do ser humano.
Meus caros amigos, meus caros inimigos, meus caros conhecidos, meus irmãos de fé, enfim, todos os que se sentem atingidos por essa violência contra a pessoa humana, é preciso agir. Não sei exatamente como, mas uma mobilização se faz necessária nos diversos setores que estão formando nosso povo brasileiro.
Está na hora de deixarmos de lado nossas diferenças ideológicas, religiosas e raciais, e juntos resolvermos essa situação. Não podemos contar com ajuda governamental, pois o "negócio" deles é outro. Não estão preocupados com a formação e o bem estar social e sim com o seu próprio bem estar. Enquanto ficarmos no "esperando Godot" de nossos governantes, seremos contemplados cada vez mais com os "queimadores" de crianças e famílias.
Os homens bombas não estão conseguindo matar tantas pessoas como a violência no Estado Brasileiro.
Na região Brasilândia, dispomos de muitas pessoas engajadas em levar uma educação de qualidade não só pedagógica, mas também no âmbito religioso. Nossos jovens precisam de muito amor cristão. O respeito à natureza e ao ser humano, são as bases da vida em sociedade. Há dois mil anos nós cristãos divulgamos essa mensagem. Felizmente, os que não entendem essa boa nova ainda são a minoria.
Na ocasião da morte do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, queimado por jovens filhos de ricos brasilienses, a sociedade “re-agiu”, mas a justiça "inter-agiu" com o poder econômico dos envolvidos. O saudoso educador Paulo Freire, numa de suas últimas cartas, escreveu: "...que coisa estranha, brincar de matar índio, de matar gente...". E mais: "...penso na mentalidade materialista da posse das coisas, no descaso pela decência, na fixação do prazer, no desrespeito pelas coisas do espírito, consideradas de menor ou de nenhuma importância".
Tenho a certeza de que não conseguirei fazer muita coisa como indivíduo isolado, mas acredito que a união de pessoas que tenham caráter e respeito pela vida poderá reverter este processo de decadência de nossa sociedade.

Franco Abelardo é Diácono Permanente da Arquidiocese de São Paulo e assessor da Pastoral da Educação da Região Brasilândia. Formado em Engenharia Elétrica pela FAAP (1980) e em Teologia pela Faculdade N.Sra. da Assunção (2005).

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