Colheremos o que plantarmos
Benedito Camargo


Na ilustração, imagens de alguns órgãos noticiosos dos primeiros dias de março de 2007: Nova Escola - Cena do filme "Cidade de Deus"; Clic News; Spiegel Online; DerSpiegel; El Pais e Unifesp - Jornal da Paulista.

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Estarrecidos ainda, pela violência do ato praticado por “monstros”, que em fuga desenfreada, logo após terem tomado o carro de uma indefesa mãe, sequer permitiram, que ela retirasse do veículo seu filho de seis anos. Como é sabido, o desfecho foi horroroso. Sem palavras, nada poderá dar sentido a tamanha crueldade. Nenhuma criatura merece tal desenlace, menos uma criança, menos ainda uma família. Todos comentam, e muitos acham que baixar a idade penal resolveria, já que tal crime foi cometido por um menor. A maioria dos veículos de comunicação, recheados de palavrório sem consistência, procuram dar receitas para punir os assassinos. A imprensa estrangeira denuncia a triste realidade na vida de nossos jovens.
Propositalmente, no início, falei em “monstros”, mas, sinceramente quem os gerou? Esta é a hora, que a Nação Brasileira, sem excluir ninguém, precisa discutir não as formas de punição para tais crimes, mas num debate sincero procurar onde – como - quando - é gerada a “causa” que leva a tal “efeito”. Crime é crime. Cumpra-se a Lei. Se é justa ou não, pouco vai mudar no acontecido. O que se faz necessário, é mudar radicalmente tudo, e esta é a hora. Fatos chocantes, semelhantes ao mencionado são tantos, pior, que só nos tocam no instante de sua divulgação, caindo logo no esquecimento. Quem se lembra do índio Pataxó queimado em Brasília; do carro com passageiros, incendiado por assaltantes em Bragança Paulista; dos queimados barbaramente em um ônibus no Rio de Janeiro; etcetera vírgula etcetera e ponto.
Crimes bárbaros seriam somente os mencionados? Tantas outras agressões acontecem em nosso dia-a-dia. Sejam aos idosos, nos seus direitos negados, tão desrespeitados pela Nação que construíram. Sejam as crianças sem vagas em creches, nas escolas ou em programas de formação continuada e assistida. Sejam aos jovens que na maioria são marginalizados por sua realidade social, de raça ou cultura. São tantos os problemas mal resolvidos, que ficamos paralizados, nem mais fazemos conta de cobrar os nossos direitos.
É a hora . . .
. . . E sinceramente não tenho a fórmula. Ninguém a tem. Necessário é começar já, cada qual buscando caminhos, acredito ser fundamental um novo olhar para com as Nossas Crianças.
Voltemos no tempo. Ainda crianças os tais “monstros” tiveram um ambiente salutar? Tiveram uma família, espaço e oportunidade que propiciasse uma educação formativa do seu Ser, como indivíduo e cidadão? Seria “monstro” uma criança? Corre o tempo, e a exclusão, a carência, a falta de afeto, as agressões sofridas, os transformam em seres indomáveis, rebeldes, insensíveis a tudo. Não valorizam a própria vida - e que vida! - como poderiam respeitar a dos outros? Mesmo quem vem de família abastada, que tenha recebido boa educação, nem sempre tem uma formação integral, do seu Ser, enquanto humano, e não apenas como especialista em determinada ciência. Humanidade é a maior ciência que podemos conquistar. Por Ela, nos enxergamos como iguais, podemos construir muito em comum, mesmo na diferença; de raça, cor, religião, cultura, poder aquisitivo, preferências outras.
Vemos no texto sagrado como o pastor busca a ovelha desgarrada (Ez 34,16), e achando-a coloca sobre os ombros e a traz de volta (Lc 15,4). O texto não fala de agressão ou maus tratos, mas de docilidade com a ovelha recuperada. Seguindo tal ensinamento, com mansidão no coração, sem mágoa e com muita vontade de mudar, possamos fazer parte de algum movimento, apoiar alguma entidade ou grupo de pessoas, envolvidas com programas de inclusão social, principalmente com menores carentes. Importante seria conhecer, investigar, acompanhar determinado projeto. Ele será de valor incomensurável, na medida em que for fiscalizado e apoiado por quem o mantém. Não nos iludamos, mudanças não acontecem de repente. Certo é que plantando hoje, colheremos no futuro dias melhores para todos nós.

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http://novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/170_mar04/html/maioridade
http://www.clicnews.com.br/geral/view.htm?id=57203
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2007/03/03/ult2682u378.jhtm
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2007/03/01/ult581u2013.jhtm
http://www.unifesp.br/comunicacao/jpta/ed162/pesq3.htm

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