Dois companheiros na casa do Pai! - Finados diferente para nós!
Dom Milton Kenan Júnior

Foto de Rosa Rambelli na celebração eucarística em Ação de graças pelo aniversário do padre Noé em 17/06/2011 - Abaixo o altar



Texto da Carta "OLHAR EPISCOPAL N° 21" de Dom Milton Kenan Júnior por ocasião da Comemoração de Finados de 2012.

Para nós, da Região Episcopal Brasilândia, da Arquidiocese de São Paulo, a comemoração de todos os fiéis defuntos tem um significado especial, pois, entre nossos irmãos falecidos, neste ano, estão dois de nossos padres queridos: o Padre José Roberto dos Santos e o Cônego Noé Rodrigues.

Eu conheci a ambos quando cheguei aqui à Região Brasilândia, como Bispo Auxiliar de São Paulo. Mesmo no aspecto físico eram completamente diferentes, a única coisa que os assemelhava eram os cabelos brancos e o sorriso. Mas não pensem que, pelo fato de terem os cabelos embranquecidos, eles eram velhos. Foram sempre jovens e amaram a juventude com paixão!

O Padre José Roberto faleceu com seus sessenta e quatro anos e o Cônego Noé com os seus noventa e cinco. Apesar da idade, mantinham-se jovens no espírito, procurando sempre descobrir a beleza da vida e o lado positivo das situações mais difíceis e contraditórias.

Há algo em ambos que, hoje, refletindo sobre a vida deles, é patente: ambos identificavam-se com o ministério que exerciam e com a vocação que abraçaram. Os sábios dizem que só conhecemos uma pessoa quando ela adoece! Os últimos meses do Pe. José Roberto foram uma constante luta contra um tumor que foi consumindo-o rapidamente. E com o Cônego Noé não foi diferente: seus últimos meses foram um alternar entre hospital e casa, inalações e outros exames e, aos poucos, a luz deste mundo foi se apagando para ele.

Não obstante o sofrimento destes meses, os nossos queridos irmãos agiam como combatentes, que vendo o correr do tempo davam o melhor de si para que o tempo não ceifasse o que tinham de melhor, o amor que eram capazes de irradiar e distribuir aos que conviviam ao seu lado.

Tive a graça de encontrar-me várias vezes com eles e, sempre me impressionava a vontade deles em ajudar, entender, socorrer. Ao Padre José Roberto bastava recuperar um pouco das suas forças, já estava ele lá em pé, celebrando aqui e acolá, preocupado com o andamento do ETEP, do ITEBRA (organismos de formação de adultos na fé da Região Episcopal); e o Cônego Noé, no seu leito hospitalar ainda teve forças e disposição para oficializar a criação da AMENA “Associação Meninos de Nazaré”, cuja finalidade é atender crianças e adolescentes em situação de risco, nas favelas das redondezas, garantindo-lhes um futuro melhor.

Quem os conheceu sabe que a preocupação pelos outros e a dedicação ao ministério não foram para eles somente a conclusão de suas vidas. Quem os conheceu sabe das muitas comunidades por eles assistidas, das obras sociais que surgiram com a iniciativa deles e a sua fidelidade em ser o que Deus os chamara a ser, para o bem da Igreja e do mundo!

Hoje, certamente qual grão de trigo lançado na terra, a vida destes nossos irmãos é plantada na terra de nossas comunidades e nos nossos corações, garantindo-nos a alegria da ressurreição. Se choramos com a partida deles, é porque a presença deles era tão sentida entre nós e porque o bem que fizeram permanecerá para sempre! Mas, na verdade, temos por eles mais motivos de nos alegrar do que nos entristecer! Se morreram bem é porque viveram bem! Choramos e nos alegramos por eles porque hoje nos damos conta da grandeza do amor e do carinho que eles foram capazes de irradiar.

Na sua mensagem de despedida, Conego Noé como menino “arteiro”, que brinca com as palavras para amenizar a dor da partida, assim diz: “Em nome da Santíssima Trindade, do Pai e do Filho e do Espírito santo, guiado por Jesus, Maria e José, meu padrinho: caminhei para a vida eterna; combati o bom combate; completei minha carreira, guardei a fé; caminhamos juntos na mesma direção; e conservamos a fé viva pela esperança na caridade. Tchau! Bye, bye! Até breve! Amém!”. Falou pouco e falou tudo! São palavras de um pastor querido que reconheceu ter dado tudo, deu o melhor de si para a missão que lhe fora confiada e ia assim com a alma descansada ao encontro do Pastor dos Pastores, para participar do Reino reservado aos “benditos do meu Pai”.

A vida deles foi uma vida vivida com paixão: paixão pelo Cristo e paixão pelos pobres! Cada um a sua maneira davam aos pobres uma atenção especial, podendo dizer que eram as “meninas dos seus olhos”! Embora sonhassem com um mundo sem ricos e sem pobres, ambos ocuparam-se com a vida dos pobres, os seus dramas, seus sofrimentos, suas lutas, suas esperanças e alegrias. Aos pobres reservaram o melhor de si!

A Obra Assistencial Nossa Senhora do Ó e a Fundação Nossa Senhora do Ó presididas e apoiadas pelo Cônego Noé, hoje sob a gerencia dos Padres Camilianos, são o legado dele à Igreja, com o compromisso de assistir crianças e adolescentes nas creches e casas de acolhida da entidade.

Não gostaríamos de dar um “Adeus!” aos nossos queridos sacerdotes! De fato, para nós que cremos, a morte não é o fim de tudo, mas é sim fim desta etapa da vida que nos prepara para a etapa melhor, quando poderemos desfrutar na luz de Deus da beleza do amor.

O exemplo destes dois irmãos nossos, revestidos da graça do sacerdócio, desperte no coração de muitos jovens o desejo de dedicar-se à vida sacerdotal ou à vida religiosa. Oxalá a Arquidiocese de São Paulo possa contar com homens como estes nossos irmãos que dedicaram em tempo integral sua vida e sua força ao serviço do Povo de Deus, alimentando-o com a Palavra e a Eucaristia e socorrendo com o avental da caridade.

Nossas palavras, hoje, querem ser para estes nossos irmãos um MUITO OBRIGADO! Sabemos que vocês não foram perfeitos, tiveram falhas, como nós temos as nossas; mas as falhas não foram pretexto para desistir de lutar, mas, ao contrário, graças a elas souberam compreender e aliviar as falhas alheias. Com vocês aprendemos que a melhor maneira de corrigir os erros e superar as falhas é fazer delas pretexto para a caridade. A caridade é o melhor remédio para nossos males e o antídoto mais eficaz para preveni-los.

Queridos irmãos, estejam em paz e não deixem de dizer a Deus uma palavra que alcance, Dele para nós, perseverança no caminho e certeza de ressurreição!

Dom Milton Kenan Júnior
Bispo Auxiliar de S. Paulo

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