A Missão de Noé, o Semeador incansável
Romano Orlando Iughetti


Traçar uma biografia é sempre uma tarefa difícil.
A vida, todas as vidas, são como quadros que o Artista cria. Para descreve-las, precisamos dar a dimensão adequada à obra, saber ressaltar suas cores, suas expressões.

Por conseguinte, não é esta uma tarefa fácil, principalmente quando discorremos sobre alguém que para nós tanto significa, e que aprendemos a amá-lo e respeita-lo como um verdadeiro pai, durante esses anos de convivência.

Escrever acerca de Noé, do nosso Padre Noé. Discorrer sobre sua Missão, sua total dedicação e amor ao próximo, seus exemplos de trabalho e de determinação.

São esses os aspectos de sua vida, que pretendemos ressaltar, e onde residem as reais dimensões, a perspectiva do quadro que ora desejamos apresentar. Aspectos de uma vida tão perto de nós, e que muitas vezes mal a conhecemos.

O Cônego Noé Rodrigues é natural da cidade de Botucatu, estado de São Paulo, onde nasceu a 17 de junho de um ano muito especial, marcado pelas aparições de Nossa Senhora em Fátima: 1917. Foi o caçula de uma numerosa família, composta de 12 filhos. Seus pais, Joaquim Pedro e Maria Augusta de Jesus, cristãos fervorosos e devotos, souberam dar a seus filhos o verdadeiro sentido de uma vida edificada no amor a Deus e ao próximo.

O exemplo de seus pais frutificou. O pequenino Noé, o jovem Noé, recebe em seu coração o Espírito Santo trazendo-lhe a Vocação, revelando-lhe a grande missão que terá nesta vida.

Ainda em sua cidade natal, passa a ter como orientador espiritual, Frei Vital então Vigário da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes de Botucatu. Aos 14 anos ingressa na Comunidade Paroquial através da Ordem Terceira - Irmão Franciscano, tornando-se mais tarde Congregado Mariano e Irmão Vicentino.
Ainda em Botucatu, cursa a escola primária e secundária, ingressando na Escola Normal, freqüentando-a durante o primeiro ano. Transfere-se em seguida para a Capital, onde conclui o curso normal na tradicional Escola Normal Caetano de Campos.

A Missão, como Pastor de almas, ainda deve aguardar. Deus sabe esperar, pois "todas as obras do Senhor são boa; Ele põe cada coisa em prática, quando chega o tempo", ensina-nos o Eclesiástico (39, 39).

O professor Noé Rodrigues exerce a sua missão de educador. Primeiramente na cidade de Jarinú, transferindo-se em seguida para Agudos e por fim em São José do Rio Preto, sempre no interior de São Paulo.

Mas, o chamado torna-se forte, imperioso. O então professor Noé ingressa, iniciando os seus estudos teológicos, no Seminário central do Ipiranga. Conclui o Seminário maior na cidade de Belo Horizonte em Minas Gerais.

Dia da Imaculada Conceição, 8 de dezembro de 1950, Ano Santo proclamado pelo Papa Pio XII. Na então Catedral provisória de São Paulo, Igreja de Santa Efigênia, o Professor Seminarista recebe pela imposição das mãos do Cardeal D. Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, a ordenação sacerdotal: Padre Noé Rodrigues.

Sob a proteção da Virgem Imaculada Conceição, o educador torna-se sacerdote. Certamente, naquele momento, o jovem padre, tem diante de si, sua vida. Vêm-lhe à memória, a suave imagem de seus pais... a reza do terço com sua mãe feita durante a longa caminhada entre a casa natal e a igreja.

Recebe de Deus a Missão de salvar almas, sublime Missão, desenvolvida em grande parte de sua vida, junto à nossa Comunidade.

Padre Noé reza sua primeira Missa em 10.12.1950 na Igreja de São João Evangelista, bairro da Casa Verde em São Paulo. Dia 17 do mesmo mês reza a Missa em Botucatu a pedido de seus conterrâneos.

Em 1951, após a ordenação sacerdotal, recebe a incumbência de lecionar junto ao Seminário Menor de São Roque, estado de São Paulo.

Transfere-se em seguida para o Seminário de Aparecida do Norte, onde além de professor exerce a função de ecônomo. Inicia nessa época sua experiência como orientador de Comunidades: aos domingos, viaja à Capital onde na Zona Norte, no Jardim Peri, trabalha junto à Comunidade de Nossa Senhora da Penha, criando e desenvolvendo inúmeras obras sociais.

Em 1965 retorna ao Seminário Central do Ipiranga, trabalhando como professor, ecônomo e vice-reitor do seminário. Ainda encontra tempo para servir como Assistente Eclesiástico do Instituto dos Cegos Padre Chico.

Anos sessenta. Década de profundas transformações mundiais. No plano político, assistimos ao aparecimento de líderes que redirecionam o mundo, possivelmente para a grande abertura que hoje assistimos.

Na igreja, o Concílio Vaticano II convocado pelo Papa João XXIII introduz importantes mudanças. É o chamado "aggiornamento" trazendo o fiel para mais próximo de si, ao mesmo tempo que procura faze-lo sentir-se responsável, pelas transformações sociais que o mundo deverá sofrer.

Dia de Nossa Senhora do Ó a Nossa Senhora da Esperança, 18 de dezembro de 1966. Padre Noé Rodrigues é nomeado Vigário de nossa Paróquia por D. Paulo Evaristo Arns, à época, Bispo Auxiliar de São Paulo - Região Santana.

A Paróquia de Nossa Senhora do Ó, uma das mais antigas de São Paulo, estabelecida em 1796, importante sobretudo pelo número de fiéis, gradualmente começa a sentir os efeitos dos novos tempos. Os ventos que sopram na Igreja originados no Concílio Vaticano II chegam até nós sobretudo trazidos pelo Padre Noé.

Aos poucos, as barreiras, as resistências - naturais em épocas de transformações como foram os tempos pós-Concílio - são vencidas graças a compreensão, bondade e determinação, virtude de um verdadeiro líder.

A Comunidade habitua-se a conviver junto àquela figura esguia, permanentemente com um sorriso nos lábios, humilde e paciente, sempre ao lado de seu rebanho. Padre Noé, inicia a sua obra maior:

Concentra toda as suas atenções aos Movimentos Familiares e de Encontro. O Movimento Familiar Cristão (M.F.C), é recebido na Freguesia do Ó, onde estabelece um dos seus mais importantes núcleos. Os Encontros de Casais, os Encontros de Jovens, Os Encontros de Adolescentes com Cristo, estruturados nesta ocasião e que perduram até nossos dias, despertam para a fé e reconduzem à Igreja milhares de almas.

Padre Noé ao inspirar esses movimentos, objetiva a Família. Família como um todo. Pais e filhos, casais de jovens. Todos são chamados. Todos devem participar.

Profeticamente sabe, que tendo a família como sólido alicerce, a Comunidade com que sempre sonhou, tornar-se-á esplendida realidade.

Preside a Obra Assistencial Nossa Senhora do Ó e a Fundação Nossa Senhora do Ó, entidades jurídicas, responsáveis pelas Obras Sociais da Paróquia. Inicia os trabalhos de ampliação do Hospital, cuja obra havia sido iniciada pelo seu antecessor Padre José M. Collaço. Durante o período em que esteve em funcionamento, em sua Maternidade, mais de 35.000 vidas vieram a este mundo.

Em 03 de outubro de 1982, inaugura a Creche Menino Jesus, construída pela Comunidade após 7 anos de devotado trabalho. Hoje, além de funcionar como Creche e Internato, tornou-se também Centro Comunitário, local onde realizam-se as reuniões dos Movimentos em atividade, os Encontros e comemorações. Possui ainda quadra de esportes funcionando como centro de lazer.

Além da Creche Menino Jesus, a Obra Assistencial Nossa Senhora do Ó administra a Creche Nossa Senhora Mãe de Deus e a Creche Menino Deus (Minasgás).

Incentiva a construção da Capela de Santa Terezinha na Rua Bonança - Freguesia do Ó, em torno da qual uma ativa e fervorosa Comunidade acha-se formada.

Ressalta as verdadeiras dimensões espirituais das tradicionais Festas do Divino Espírito Santo e da Padroeira, Nossa Senhora do Ó, assim como das celebrações da Semana Santa. As Novenas de rua e na igreja, preparatórias das Festas do Divino e de Nossa Senhora do Ó, contam com a participação de centenas de famílias.

Reúne anualmente em uma grande festa de congraçamento o povo e a Comunidade da Freguesia do Ó, durante a realização da já tradicional Feira das Nações, realizada no Largo da Matriz.

Trabalha ativamente junto à Comunidade Jovem e Adolescente, objetivando principalmente formar cristãos e cidadãos cônscios de suas responsabilidades no mundo de hoje. Os Jovens de nossa Comunidade, com sua animação, seu trabalho principalmente junto às crianças das Creches, orientando os Cursos de Crisma, demonstram sobre tudo que é possível acreditarmos em um mundo melhor, mais humano.

Ano de 1976. Padre Noé é nomeado Cônego, passando a fazer parte do Cabido Metropolitano da Arquidiocese de São Paulo.

Foi ainda Diretor Espiritual da Associação das Luizas de Marillac. Presidente da Cidade dos Velhinhos em Itaquera, na Grande São Paulo, grande obra fundada e dirigida pela Irmã Maria Luisa Nogueira, a responsável em nossa Comunidade pela Pastoral da Terceira Idade.

Como dissemos inicialmente, em momento algum tivemos a pretensão de escrever uma biografia do Padre Noé Rodrigues. Procuramos, sobretudo, como testemunhas, relatar fatos, trabalhos, experiências que presenciamos e participamos.

Escrevemos essas nossas impressões já no tempo do Advento. No tempo da Esperança. Daquela esperança que está sempre a renovar-se no semblante e nas atitudes do Padre Noé.

Alguém em nossa Comunidade, durante uma reunião do MFC, falando de João Batista, teve a felicidade de dizer: "Ele prepara o caminho do Senhor e o encontro do Homem com Deus; levanta o dedo e indica a passagem do Mestre".

Esta é a Missão do apóstolo.

Esta é a Missão que nos tem ensinado o Padre Noé.

Romano Orlando Iughetti, escreveu este texto por ocasião da comemoração dos 40 anos de sacerdócio do Pe. Noé Rodrigues em 1990.

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