O valor do passado
Benedito Camargo


brincando junto ao marco histórico.


crime praticado, cenário desolador.


número 62, antigo 16 do largo.


tentaram também queimar a casa.


no início de 1980 estava assim.


e o que restou em agosto de 1980.


a dureza do barro que resistiu.


um último grito antes do fim.

Quando nos deparamos frente a construções antigas, deformadas ou destruídas, sentimo-nos lesados, ou pior, deserdados, por não termos a quem recorrer, para que se resolva tal problema, e se tenha uma solução positiva.
Aqui em nosso bairro, Freguesia do Ó, à Rua João Alves, ao lado do largo da matriz velha, existe uma casa que dizem ter sido da Marquesa de Santos, e que por tal razão foi tombada. Pela dificuldade e custo para manter a construção e pela ação do tempo, a mesma está se deteriorando. Faz algum tempo que a cobertura foi totalmente mudada. Antes, telha colonial, depois, "Brasilit", o que descaracterizou totalmente o imóvel.

Em 1980, ano do quarto centenário do bairro, uma verdadeira relíquia foi destruída pela ação criminosa de vândalos, ou de interesses escusos que não foram apurados, quando queimaram e demoliram o chamado "Casarão", situado no número 62 - antigo 16 - do largo da matriz velha, em frente ao antigo marco comemorativo ao evento de laguna, e com isso uma parte de nossa história foi destruída.


A pintura que ficava sobre a porta principal.

Recordo-me que no princípio daquele ano de 1980, quando algumas crianças brincando junto ao marco histórico, sequer tinham noção do crime ali praticado, fotografei o cenário já em demolição, em que parte das paredes internas foram derrubadas, quando tentaram também queimar a casa.


barro agregado, junto a galhos e folhagens.

No mês da festa do bairro, mais precisamente nos dias 28 e 29 de agosto, fotografei o que restou do imóvel. Paredes quase destruídas, não fosse a dureza do barro que ali fora agregado, junto a galhos e folhagens, típicos das construções do tempo do Império.


Pelo gradil da porta principal, em ferro moldado com datação de 1883, pude ver a torre da igreja matriz de Nossa Senhora do Ó, que fora construída de 1898 a 1901, logo após violento incêndio, em frente ao "Casarão", que naquela fatídica noite de 22 de novembro de 1896 devorou totalmente a antiga matriz.
Quando revejo as fotos das paredes agredidas, das ripas queimadas no telhado todo danificado, penso no quanto devem ter sofrido os antigos moradores daquele imóvel centenário. Em seu livro, "Homenagem ao passado - autobiografia", a autora Neyde de Moraes Amaral, que residiu na casa relata; "O Casarão deixou saudades em todos os que puderam freqüenta-lo, e inveja naqueles de alma mais sensível, cuja única alternativa é tentar imaginar a riqueza desses dias e o convívio com as pessoas tão únicas, que hoje, acolhedoramente, nos olham do passado, mas estão presentes na memória do nosso coração".
Pena, que não tenhamos uma disciplina escolar, que oriente as crianças, desde cedo, a dar valor ao passado. Saber visualizar os acontecimentos da história, com seus personagens, suas datas, seus documentos e principalmente os locais do evento, já que esse espaço, é o que fica, permanece, e que deve ser preservado, como testemunha de fatos tão cheios de emoção e vida, tão fortes que podemos senti-los quando adentramos em tal cenário.

Benedito Camargo é Bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, Diácono Permanente na Arquidiocese de São Paulo.


BIBLIOGRAFIA
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MORAES AMARAL, Neyde de, Homenagem ao passado - Autobiografia, São Paulo: Angelus. 2005. p. 26

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