A música na Festa do Divino
Benedito Camargo


Vem, Espírito Santo!,

Criador,

Enche com a graça do céu os corações que criaste,

Tu que és chamado Paráclito,

Altíssimo dom de Deus,

Água viva,

Fogo,

Amor,

Unção espiritual,

Multiforme nos teus dons,

Dedo da destra de Deus,

Solene promessa do Pai,

Tu pões nos lábios a palavra,

Acende a tua luz na mente,

Infunde no coração o amor,

Revigora com teu eterno poder aquilo que em nosso corpo está enfermo,

Para longe repele o inimigo!,

Dá-nos sem demora a paz,

E, por ti conduzidos, todo o mal evitaremos,

Faze que por teu intermédio descubramos o Pai,

Dá-nos conhecer também o Filho,

Em ti, Espírito de ambos, faze que sempre creiamos,

Temos recebido inúmeras consultas, sobre as músicas cantadas durante a Festa do Divino, que é uma tradição do povo da Freguesia do Ó. O que podemos afirmar com certeza é que realmente a música traz grande riqueza à Liturgia em honra ao Santo Espírito de Deus. Sabemos que a Igreja Católica, todos os anos, festeja Pentecostes, mas em alguns locais tal Solenidade ganha um brilho especial, na preparação que acontece, durante os nove dias que antecedem à Festa.
Introduzida pelos portugueses, essa festa, acontece no Brasil desde o século XVII e a Paróquia de Nossa Senhora da Expectação de Ó, conserva com muito carinho tal tradição, e procura valorizar tanto a Liturgia quanto a religiosidade popular, tão comum em nosso povo. Atualmente, na igreja matriz do Ó, as músicas são escolhidas de acordo com o tema a ser meditado em cada dia da novena. Existe grande variedade de letras com riqueza de temas e muitos autores de renome, mas em todos os dias, na saída da celebração, é entoado com muito entusiasmo, "Os devotos do Divino" de Ivan Lins. Também, em todas as celebrações, é cantado o "Veni Creator", um hino repleto de imagens e intuições, que ilumina os fiéis na contemplação dos Dons do Divino Paráclito. O autor, mais provável, desse hino foi um Abade de Fulda na Germânia e Arcebispo de Mogúncia, Rabano Mauro, nascido na segunda metade do século VIII.
A grande riqueza do "Veni Creator", a meu ver, é o interesse que lhe é devotado tanto pelos religiosos, de maneira ecumênica, quanto por "experts" em arranjos musicais no passado. Ganhou uma versão em alemão pela sensibilidade de Goethe, foi escolhido como texto em uma obra de Gustav Mahler, e o grande compositor Johann Sebastian Bach musicou a tradução que Lutero fez desse hino latino, o único, aceito por todas as grandes Igrejas que surgiram da Reforma. Além dos Católicos, utilizam-no também os Anglicanos e os Calvinistas pela beleza do texto eminentemente ecumênico. As palavras do texto latino, com a melodia gregoriana, tocam o mais profundo do ser, pelo conjunto tão harmonioso que apresenta, de forma que o ouvinte entra numa atmosfera de grande elevação espiritual.

Veni Creator
Veni, Creator Spíritus,
mentes tuórum visita,
imple supérna grátia,
quae tu creásti péctora.
 
Qui díceris Paráclitus,
altíssimi donum Dei,
fons vivus, ignis, cáritas,
et spiritális únctio.
 
Tu septifórmis múnere,
dígitus paternae déxterae,
tu rite promíssum Patris,
sermóne ditans gúttura.
 
Accénde lumen sénsibus;
infunde amórem córdibus,
infírma nostri córporis

virtúte firmans pérpeti.
 
Hostem repéllas lóngius,
pacémque dones prótinus;
ductóre sic te praevio

vitemus omne noxium.

Per te sciámus da Patrem,
noscamus atque Filium;
teque utriúsque Spíritum
credamus omni témpore.
 
Deo Patri sit glória,
et Fillio, qui a mórtuis
surréxit, ac Paráclito,
in saeculórum saecula. Amem.

Vinde, Espírito Criador,
visitai as almas dos Vossos,
enchei de graça celestial,
os corações que criastes.
 
Sois o Divino Consolador,
o dom do Deus Altíssimo,
fonte viva, o fogo, a caridade,
a unção dos espirituais.
 
Com os Vossos sete dons,
sois o dedo da direita de Deus,
Solene promessa do Pai,
Inspirando nossas palavras.
 
Acendei a luz nos sentidos;
insuflai o amor nos corações,
amparai na constante virtude
a nossa carne enfraquecida.
 
Afastai para longe o inimigo,
Trazei-nos prontamente a paz;
Assim guiados por Vós
Evitaremos todo o mal.

Por Vós explicar-se-á o Pai,
E conheceremos o Filho;
Dai-nos crer sempre em Vós
Espírito do Pai e do Filho.

Glória ao Pai, Senhor,
Ao Filho que ressuscitou
Assim como ao Consolador.
Por todos os séculos. Amém.

Benedito Camargo é Bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, Diácono Permanente na Arquidiocese de São Paulo.
BIBLIOGRAFIA
_______________________
      CANTALAMESSA, Raniero, O Canto do Espírito, Petrópolis: Vozes, 1998.



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