É cedo, domingo 17 de setembro de 2005, dia frio, uma tênue névoa dificulta a visão ao longe, os fiéis adentram a igreja matriz da Senhora da Esperança, nesta Freguesia do Ó. O canto alegre do sabiá sobressai no silencio da manhã, enquanto chegam ao largo da matriz, caminhões com uma carga esquisita; cavalos, e mais cavalos. Um pensamento voa veloz para os idos de 1901...
...Soa longe o ranger choroso do carro de boi. A brisa leve de uma manhã de pouco sol, toca a face rude do antigo tropeiro que caminha a passos largos. Atrás, sua mulher, de estatura mediana, corpo franzino, quase correndo e arrastando a pequena de olhos amendoados, tentam acompanha-lo. Vão cumprir o sagrado preceito da desobriga dominical, são os filhos da Igreja desta paróquia. Caminham já a algum tempo, desde o sítio das bandas do congo, onde tal homem planta cana para a produção de caninha, de sabor adocicado e suave odor, que já ganhou fama junto a seus apreciadores. Só se escuta o andar em descompasso desses ilustres caminhantes, numa estrada de terra arenosa e clara, sulcada pelas rodas das carroças, denunciando a passagem de uma comitiva momentos antes, e que tinham como destino a pequena vila no alto da colina azul. Finalmente, após a curva, ladeada pela vegetação cerrada repleta de caetés, avistam uma construção com sua cúpula redonda e torre imponente, que dão destaque à nova igreja matriz, que agora pode servir ao povo desse lugar, substituindo a antiga igreja que a quase meia década atrás fora queimada num impetuoso incêndio que a devorou totalmente.
Estava ainda imerso nesse cenário, quando ouço alguém comentando com entusiasmo os acontecimentos do dia anterior, no parque da Água Branca, durante o evento "Revelando São Paulo", que acontece todos os anos, e que tem como finalidade divulgar e trazer para os habitantes desta metrópole a riqueza de nosso folclore, com suas danças, comidas e costumes tão próprios de nosso estado de São Paulo. "Revelando São Paulo" é o espaço onde acontece multiformes expressões de nossa cultura. De muitas cidades do interior paulista, chegam as caravanas com as pessoas, instrumentos, artefatos, suas comidas típicas e seus animais, para se mostrarem e trazer à memória seus antepassados com suas tradições e valores tão esquecidos na atualidade. Tomara floresça, cresça e amplie nas gerações futuras esse ardor na missão de revelar nossas raízes.

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